Três poemas de João Rasteiro
Canto
Ouço o mar uivando nas fissuras da pele
das vértebras escorre uma linfa imaculada
todos os passos conduzem à inclinação do tempo
o silêncio de marfim na carne masculina
no sabor da noite o riso das cinzas
o cheiro espesso dos sonhos esquecidos
hipnotizados pela música do orvalho
aparecem e afastam-se e regressam no corpo cozido.
[A respiração das vértebras, 2001. pág. 19]
Voo vertical
No telhado das estrelas
a rapidez do corpo sobre o centro
o vazio entre os espaços
onde a folhagem regressa eternamente
e forma pares imprevisíveis.
O vento arranha as estátuas
um tronco rugoso e aves sem sentido
pelas curvas que descrevem
mas ninguém afirma que não voam
entre o bafo quente de membros apagados.
[No centro do arco, 2003, pág. 53]
Sem título
Na profusão da terra exaltada
o tempo mistura as idades
no corpo estancado dos animais.
A carne enredada na dor materna
irrompe na limpidez do espaço
o seu silêncio indecifrável ambíguo
cola-se à pele íngreme surda.
Eu sigo o murmúrio dentro do fogo
aquecendo a matéria das têmporas.
[Os cílios maternos, 2005, pág. 21]
Etiquetas: Poesia
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